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Trabalhar e Estudar em Portugal: Minha Experiência

Hoje quero dividir com vocês uma parte significativa da minha jornada: a experiência de trabalhar e estudar em Portugal, na mesma época. Eu trabalhei em diferentes lugares até hoje, mas, neste post contarei a vocês, em especial, sobre o período em que trabalhei em um café e em um pub em Bragança, de junho de 2021 a setembro de 2022. Durante esse tempo, equilibrei minha rotina entre o mestrado e as intensas horas de trabalho. Foi uma fase desafiadora, repleta de aprendizados e, sem dúvida, cheia de histórias para contar!

 

O Desafio de Trabalhar e Estudar

Conciliar o trabalho e estudos é um desafio em qualquer lugar. Mas morando fora e longe da família, tendo que lidar com todos os problemas da vida adulta sozinha, é ainda mais intenso.

Mas, quando decidi vir para Portugal, eu já sabia que teria que estudar e trabalhar ao mesmo tempo (“eu, minha amiga, 8 mil reais na conta e um sonho” lembram?), e que não seria fácil. Assim que cheguei, já comecei de cara a procurar emprego (após 15 dias de quarentena), imprimi alguns currículos e fui para o centro da cidade entregar nos cafés e lojas. Uma semana depois: fui contratada em um café.

A Rotina: Dias Longos e Noites Ainda Mais Longas

Quando comecei a trabalhar era verão, ou seja, era férias escolar. A cidade era cheia de turistas e os cafés lotados, isso me ajudou a conseguir um emprego logo de cara. Como ainda não havia aulas, eu trabalhava no turno que o meu chefe precisasse mais.

O café tinha dois turnos principais: de 7h30 às 15h30 e de 15h30 à meia-noite. Porém, durante o verão, o horário da noite podia se estender até 3h ou 4h da manhã, dependendo da disposição dos clientes. Nessa altura, como havia muitos clientes devido aos turistas, trabalhávamos em pelo menos 4 pessoas por turno.

Pouco tempo depois, meu chefe abriu o pub.

No pub, o turno começava às 16h (quando as aulas começaram eu entrava as 19h) e ia até 3h da manhã, mas, novamente, raramente fechávamos na hora que deveria. A equipe era um pouco maior, com cerca de 8 pessoas trabalhando por turno.

O que “ajudou” dar certo pra mim na época foi o fato do meu chefe ter os dois estabelecimentos. E eu alternava meus turnos de trabalho entre os dois, dependendo dos horários das minhas aulas. Quando as aulas eram apenas de manhã, eu trabalhava no café a tarde, e quando eram de manhã e de tarde, eu trabalhava no pub a noite (e as vezes no outro dia tinha aula as 9h!).

Porém, o pub funcionava majoritariamente no verão. Logo quando começava o inverno, fechava-se as portas.

Já o café, no inverno, o número de funcionários diminuía significativamente, era apenas uma pessoa por turno. E eu graças a Deus era uma delas na época e não fiquei sem trabalhar.

Com isso, muitas vezes o turno de trabalho e o horário das aulas se coincidiam, e eu precisava faltar as aulas. Outro fator que me ajudou muito na época, era que eu tinha colegas de mestrado que iam estudar no café para que eu pudesse estudar “junto”.

colegas de mestrado estudando no comigo no trabalho

Dica Importante: O Estatuto do Estudante-Trabalhador

Uma alternativa que é possível de se realizar aqui em Portugal, para quem trabalha e estuda, é entrar com o pedido do “Estatudo do Estudante-Trabalhador”. Com este estatuto, a faltas são justificadas, e é possível no final ter uma prova extra (com a matéria do semestre todo, o que dificulta um pouco, mas é possível se esforçar um pouquinho e ir bem – foi como o Firmino concluiu o mestrado e ele pode falar um pouco sobre isso em um novo post).

Porém, para entrar com o Estatuto do Estudante-Trabalhador é preciso ter contrato de trabalho, e na época eu não tinha.

Desafios e Dificuldades

O principal desafio incrivelmente não foi lidar com a falta de tempo devido trabalhar e estudar, e nem mesmo o cansaço (que também era muito difícil!). Mas o pior era lidar com o pagamento – ou falta dele.

Eu recebia um salário fixo de 700 euros/mês na época, mas o meu chefe frequentemente atrasava o pagamento. Muitos funcionários acabavam saindo e até levando o caso para o ACT (Autoridade para as Condições de Trabalho), mas ele não se importava muito com isso.

No meu caso, eu ainda trabalhei a maior parte do tempo sem contrato, o que complicava ainda mais a situação. No entanto, eu consegui garantir meus pagamentos através de uma abordagem mais direta, dizendo que se não fosse paga, eu me demitiria e não voltava mais. Para alguns isso não funcionava, mas incrivelmente para mim funcionou (quando disse que na maior parte do tempo trabalhei sem contrato, foi porque eu tive um, mas me demiti quando comecei a ter problemas de pagamento, e voltei na semana seguinte, sob novas condições – passei a cobrar um valor diário e receber por semana- e aviso que se não houvesse o pagamento eu não voltava), e consegui levar por mais de um ano recebendo quase corretamente (com alguns atrasos, mas recebia).

O Colapso do Negócio

Em agosto de 2022, o meu chefe, até então, começou a enfrentar problemas financeiros sérios. Ele perdeu o pub e o restaurante que também tinha, e o café em seguida foi fechado por um mês sem aviso prévio. Quando o café reabriu, estava apenas com ele e a esposa trabalhando. Infelizmente, ele ainda ficou me devendo os dias do último mês que trabalhei antes dele fechar o café sem avisar. Essa situação não foi exclusiva para mim; outros trabalhadores também enfrentaram dificuldades semelhantes.

A cultura do “mal pagador”

Infelizmente,  esse caso não era particular do café em que eu trabalhava. Ouvi muitos relatos ao longo do tempo de outros cafés e restaurantes da região, com outros donos, em que aconteciam histórias semelhantes referente a dificuldade com pagamento. E a maioria dos donos desses estabelecimentos não oferecem o contrato de trabalho, o que dificulta mais ainda a situação.

Reflexões Finais

Minha experiência foi uma montanha-russa de emoções e desafios, mas também de aprendizados. Trabalhar em um café me ensinou muito sobre a realidade do mercado de trabalho em Portugal e a importância de estar bem informado sobre os direitos trabalhistas.

Fica a dica: exija o contrato de trabalho, mesmo trabalhando por hora ou por meio período.

Apesar de em alguns casos o patrão negligenciar mesmo com o contrato (como o meu), isso lhe dá diversos direitos, como subsidio de férias, subsidio desemprego, iniciar sua careira contributiva, entre outros. E caso o patrão se recusar a dar o contrato, você pode acionar o ACT. Eles visitam o local, notificam o dono, e obriga ele seguir as regras, sendo uma delas que todos os funcionários tenham contrato de trabalho.

Para quem está pensando em se mudar para cá e trabalhar enquanto estuda, minha recomendação é: esteja preparado para desafios e sempre se informe sobre seus direitos.

 

Espero que minha experiência ajude vocês a entender melhor o que esperar e a se preparar para possíveis desafios. Se você tiver alguma pergunta ou quiser saber mais sobre a vida em Portugal, não deixem de entrar em contato, vou responder com prazer.

E acompanhem os próximos posts, pois é claro que eu tive, em seguida, experiências melhores e compartilharei com vocês.

 

Até a próxima!

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